terça-feira, 16 de abril de 2024

20 e poucos anos

Apesar da complexidade interpretativa de Tabacaria, poema de Álvaro de Campos, posso usá-lo para falar de mim. O eu lírico do texto reflete questões existenciais que lhe atravessam tanto na perspectiva exterior, como interior, no momento em que está perdido entre as tantas mudanças que coexistem na vida que ele vê através da janela. O eu lírico ou eu poético, visualiza sua vida com seus próprios olhos, e assim, por meio do texto, posso ver-me através da janela, e refletir todas as mudanças que tem acontecido nesses meus 20 e poucos anos. 

A vida tem andado corrida, cansativa, por vezes triste e depreciativa, mas tenho tentado manter-me feliz entre a dor e a delícia que é viver. Durante um processo terapêutico que me rasga e me costura, tenho aprendido mais sobre mim e sobre a forma como eu me fragmentei em pedacinhos para responder a expectativas de quem eu julguei merecer, e fiz de bom grado. A única pessoa que esqueci de agradar, fui eu mesma. Parece que "Fiz de mim o que não pude, e o que podia fazer de mim, não o fiz". Me anulei por tantas vezes em silêncio, e quando percebi, ouvi que minhas atitudes eram egoístas. Fiz o que pude e não foi suficiente. Fiz mais do que pude e não tive o crédito devido. Até que eu entendi que não há nada, nem ninguém, que mereça estar em primeiro lugar na minha vida, senão eu. E ainda há tanto espaço pra amar um montão de gente, percebendo-me como importante e personagem principal do enredo da minha vida. 

De uns tempos pra cá eu entendi, que por amor a gente fecha os olhos, ouvidos, coração. Finge que não entendeu, que há chance de melhora, se põe culpa, se vulnerabiliza. Até conseguir admitir que o outro também nos fere e é nosso direito sentir a dor, por mais que não seja intencional fazer doer. Por que a gente sabe que também pode fazer doer o outro. Quando se vira a chave pra perceber que não há perfeição nas relações, pode-se perdoar e pedir perdão. Recomeçar se valer a pena e findar histórias que não nos cabe mais. De uns tempos pra cá eu acho que abri os olhos.

2023 foi o ano que eu mais me transformei. Me vi frágil e forte. Me vi amada e odiada. Me amei e me odiei. Me vi generosa e egoísta. Mas eu amadureci muito mais que em outros anos, porque eu virei de cabeça pra baixo e no meio do caos comecei, finalmente, a tomar as rédeas da minha vida, embora eu saiba que por vezes essas rédeas vão me fugir a mão.

Tentar ou finalmente tomar essas rédeas nas mãos é desesperador e reconfortante. É contraditório e genuíno, saudável e adoecedor... mas se tem uma coisa que é, é libertador. Não se pode ter asas demais, não se pode ter asas de menos. É preciso dosar entre a sanidade e a loucura, cortadas por uma linha tênue em que se tem porto e quer mar, em que se está no mar e quer o porto. E entendi que não preciso escolher só uma coisa, que eu posso sim, ter tudo que eu julgue necessário e de bom grado. Eu posso ser tudo e depois ser mais. E ainda se "Não sou nada. Nunca serei nada. Não posso querer ser nada. À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo." 

Nesse início de nova fase, digo que tenho em mim todos os sonhos do mundo. Os que sonhei e os que ainda nem sonhei. Sem muitas certezas, mas tentando ter em mente que temos tempo e chance de realizá-los, com muito amor, determinação e trabalho duro, principalmente sem deixar influenciar ou desviar por outras pessoas, mesmo que próximas e significativas. 

Parece que essa fase diz que: "Eu não abro mão. Nem por você, nem por ninguém, eu me desfaço dos meus planos. Quero saber bem mais que os meus 20 e poucos anos." E não abrirei mesmo mão de mim. E focar nisso, pela primeira vez na vida, não é egoísmo, nem de longe. 

Até mais.

Com carinho, de mim, para mim mesma. 


sexta-feira, 5 de abril de 2024

the dark side of the moon

Eu nunca fui fã do Pink Floyd mas desde sempre eu ouvi algumas músicas. O Pink Floyd é uma banda de rock progressivo, que tem suas músicas com maior duração e solos de guitarra lindos, mas que pra ouvir corriqueiramente é complicado- então eu ouvia vez ou outra. 
Mas porque tratar disso agora, do nada? Porque tem uma coisa deles que sempre me chamou atenção, que é o prisma com o raio refletindo as cores do espectro visível, porém eu nunca tinha parado para analisar o que aquilo significava e como significava na minha vida, já que eu não era fã da banda e usava aquele simbolo pra muitas coisas como wallpaper e afins e agora eu tenho uma explicação lógica pra o uso dessa imagem a seguir.



Essa imagem é a capa do oitavo álbum da banda, o The Dark Side Of The Moon. O disco mostra uma nova fase da banda, por vezes mais introspectiva, sobre doença mental e coisas do tipo, mas que coisa tendenciosa, né? Porque eu gostaria disso, ainda mais sendo um disco que fala sobre o lado obscuro da lua? Na boa, esse disco é absurdamente perfeito de produção. 

Numa análise básica do período, o disco foi lançado na década de 70, conhecida também por ser a era do individualismo, e ele vai tratar do tempo, do dinheiro e da cobiça, além da loucura e das drogas, fortíssimas na época, sendo esse anseio retratado nos solos progressivos. 

A capa é por sua vez um retrato da humanidade, de suas dúvidas e do lado obscuro que cada pessoa tem, repleto de falhas e de segredos intrínsecos. 
Por mais que alguém seja simpático e "feliz", todas as pessoas, em algum momento tem seu lado dark. 

Em outra perspectiva, a luz que refrata pode significar que uma atitude tem várias consequências, que você pode ser luz na escuridão e pra mim é isso que significa, além do "original". 

sexta-feira, 6 de janeiro de 2023

Este é um relato sobre esperança!

Dois anos (2020 e 2021) foram marcados por incertezas não tidas em muito tempo por toda a população mundial: a pandemia da COVID-19 assombrara a vida de todos. Ricos e pobres, mas principalmente pobres. Quantas vidas foram perdidas? Quantos danos físicos, psicológicos, emocionais, econômicos e sociais foram decorrentes da pandemia? Uma coisa é certa: a vida de todo mundo mudou, de alguma forma. Uns mais, outros menos e outros bem menos.

A chegada da vacina proporcionou para além de muita negligência governamental no Brasil, a esperança. A única capaz de tomar, aos poucos, o espaço do medo, da ansiedade, mas que não substituiu o sentimento do luto das famílias que perderam seus entes, nem daqueles que tiveram debilidades em decorrência desta.

Esta é apenas uma breve introdução de todo o caos instaurado (diferentemente) no Brasil e no Mundo, mas que conseguiu ver a luz ao fim do túnel a partir dos planos de retomada ao que seria o novo normal. Sustentado pelo retorno da convivência interpessoal, abrindo as portas do isolamento social, ainda com uso de máscaras e seguindo todas as medidas sanitárias, houve o retorno das atividades presenciais que outrora estiveram remotas, como a academia. E assim o fez, as aulas do Departamento de Ciências Geográficas, assim como os demais departamentos da Universidade Federal de Pernambuco, retornaram às salas presenciais e não mais virtuais. Com as flexibilizações, aumento da vacinação e redução do número de mortes e casos graves de infecção da SARS-CoV-2, as aulas de campo também foram retomadas.

Ainda em meio as incertezas, as aulas de campo foram, aos poucos, acontecendo. As disciplinas dos semestres 2021.2 e 2022.1 tiveram suas aulas de campo aprovadas e realizadas. É urgente utilizar esse espaço, para problematizar algumas questões que envolveram a realização de algumas dessas atividades, a saber: problemas com a disponibilização de ônibus em condições seguras e regulares das Leis de Trânsito, corte de verbas e redução de quilometragem, junção de disciplinas para realização do trabalho de campo em função da reduzida disponibilidade. Ainda assim, aconteceram, sem maiores prejuízos.

Quando encaminhados para o fim de um (des)governo genocida, mais ataques à educação e mais desrespeito com os estudantes que produzem ciência nas universidades públicas desta “pátria amada”. O cenário era de cortes, congelamentos e prazos absurdos para utilização do pouco dinheiro que restou no taxo, que foi totalmente raspado pela “família tradicional brasileira” antes de debandarem para a terra do Tio Sam. Estudantes desesperados, incertezas como se já não bastassem as muitas que já se tinha, bolsas não liquidadas – o puro suco do caos. Fim de período letivo, início de outro em dezembro, mentes esgotadas, exaustas e implorando por férias – se é que se tem uma verdadeiramente. E como realizar um trabalho de campo metodológico nesse momento?

Antes de continuar essa descrição e ao mesmo tempo desabafo, preciso apresentar aqueles ousados que propuseram a realização de um campo metodológico em meio ao caos: o PET Geografia. Para aqueles que não conhecem ou ainda não consegue explicar do que se trata o PET, é um prazer explicar do que se trata, o grupo que já é minha casa há 4 anos. O PET é o Programa de Educação Tutorial, vinculado ao Ministério da Educação e que tem em várias Instituições de Ensino Superior (IES). Especificamente, o PET Geografia da UFPE é um grupo, que caminha para os 35 anos de existência e que por meio de processo seletivo, tem estudantes do curso de Geografia da mesma universidade, realizando atividades de ensino, pesquisa e extensão, que são primordiais no desenvolvimento pessoal, acadêmico e profissional desses, que recebem do FNDE – Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação, uma bolsa de R$ 400,00, que há pelo menos 10 anos não é reajustada.

Continuando e sem mais delongas... dentro do PETGEO, realiza-se bianualmente o Meio Ambiente em Foco – MAF e como proposta para o ano de 2022, o Racismo Ambiental se tornou temática do evento que tratou de conflitos, territórios e resistências, envolvendo o tema principal. Nesse segmento, o evento propunha a realização de um trabalho de campo, que por diversos motivos não aconteceu, mas de toda forma, devido ao envolvimento com a temática, foi proposto que os petianos realizassem, enquanto grupo, esse campo metodológico, a fim de promover mais conhecimento e também integração petiana.

Através da Pós-Graduação (PPGEO) e juntamente ao Laboratório de Estudos e Pesquisa sobre Espaço Agrário e Campesino – LEPEC, foi possível realizar um campo metodológico em 20 de dezembro de 2022.

Em plena terça-feira de sol no Recife, às 7h30, 11 petianos, o tutor Bira e 5 pós-graduandos estudantes do LEPEC, partiram da UFPE, rumo ao aprazível trânsito que nos permitiu chegar ao primeiro destino do dia: Gaibú, praia no Cabo de Santo Agostinho, litoral sul de Pernambuco. De acordo com os registros do Google Maps, chegamos às 9h30 à Igreja Anglicana Jesus de Nazaré para conversar com Reverendo Ivaldo sobre o importante trabalho social que ele desenvolve com várias famílias em vulnerabilidade.

Num breve relato sobre o cenário de Gaibú, não há preparo tecnológico e educacional para que os jovens tenham acesso à universidade. Com a chegada do Complexo Industrial e Portuário de SUAPE, muitos dos jovens e adultos acabaram indo trabalhar na construção e manutenção do local. Entretanto, é válido problematizar e os fazer pensar, como e quais são os trabalhos disponíveis para esse público local, sem escolaridade completa, muitas vezes. Realizado durante a pandemia por membros do LEPEC, um mapeamento comunitário participativo foi mencionado e descrito como muito importante para o local.

Em função desse panorama de precariedades e vulnerabilidade, o Cabo de Santo Agostinho é uma das cidades mais violentas e perigosas para se viver, viola o direito da mulher – na comunidade das marisqueiras, por exemplo e é também uma localidade que sofre com o Racismo Ambiental e a expropriação promovida por Suape. Por isso, projetos sociais como o “Dar as Mãos” atuam mudando vidas com projeto de vida, educação social, acolhimento. O “Christian Surfers International” também atua nos projetos de vida através do Surf.

Ainda, o Cabo de Santo Agostinho é conhecido por ser também, o paraíso do turismo sexual, e disso, decorrem diversas formas de abuso e muita transmissão de doenças. O CTA é o Centro de Testagem e Aconselhamento que atua na conscientização da população sobre a prevenção dessas doenças que ocorrem pela banalização sexual, abusos, sexo sem preservativo e desses desdobramentos, a Secretaria de Saúde também passa a estar envolvida, visto os muitos casos de AIDS/HIV, bem como a Secretaria de Defesa Social pelas muitas violações de direitos. Não há acesso e preocupação com ginecologia e disso, é preciso ressignificar a importância da saúde da mulher.

O Cabo também é palco de muita corrupção, ausência de políticas públicas e violência. Na praia de Gaibú, há somente, uma escola estadual, com escolarização deficitária, alta taxa de evasão e pelo menos 60% do público é aprovado mesmo não estando apto.

É importante mencionar que os problemas não são todos frutos de Suape, mas ainda assim, o complexo afeta toda a comunidade e é tido como um monstro desde sua instalação. Não houve consulta e nem pesquisa humanizada e se excedeu a violência. Ao menos 70% do manguezal foi destruído, o rio reduziu em 40% e o resto do mangue que sobrevive está poluído. Além disso, não há plano de habitação, nem de conservação ambiental.

Na roda de conversa realizada na Igreja Anglicana, concluiu-se que a indiferença com a população é um projeto estadual para dizimar a população pobre, as comunidades tradicionais, lavadeiras e pescadores. Estes estão a todo momento acometidos pelo descaso ambiental, social, político, econômico e psicológico.

Após discorrer sobre os muitos assuntos tratados e informações tristes serem mencionadas, refletimos sobre a realidade que muitas vezes é cruel. Ainda assim, enxergamos aquela mesma esperança tratada no início deste texto pela chegada da vacinação. A esperança do trabalho social que cura, resgata e acolhe. A esperança de que jovens cheguem na universidade por meio do incentivo daqueles que assim como eles, acharam que não seria possível e mesmo assim conseguiram. A esperança das boas pessoas que nos acolheram com música, café, bolacha, fruta e tempo – o precioso tempo.

Depois de 2 horas e 15 minutos de conversa, nos despedimos dos primeiros anfitriões de nossa breve estadia na Praia de Gaibú.

- Que pena! Estavam na praia e já foram embora sem ao mesmo enxergar o mar?

Esse pode ter sido o vosso questionamento, caro leitor! Mas apesar de estarmos em trabalho de campo, o horário do almoço é sagrado. E por que não realizá-lo e confraternizá-lo na brisa da praia e após salgar nossos corpos?

Partimos em direção à Praia de Calhetas, ainda no Cabo de Santo Agostinho, onde tomamos um refrescante banho de mar e almoçamos sobre a sombra de uma árvore, que se não me falhe a memória, era um pé de castanhola. Após nossa horinha de descanso – que de uma horinha não teve nada, e se estendeu por volta de três horas, tínhamos o último compromisso do dia: visitar o Engenho Mercês em Ipojuca.

-Existe um Engenho em Ipojuca? E por que visitá-lo?

Caro leitor, essa sua pergunta pode ter sido fruto de pouca compreensão da Região Metropolitana do Recife. E ao mesmo tempo, entende-se o questionamento da existência de um Engenho – que automaticamente remete nossas lembranças ao período colonial, no meio de uma cidade metropolitana. O fato é que ao mesmo tempo que existe, o Engenho Mercês se tornou mais uma das vítimas da imensa derrocada financiada e pensada por Suape, apoiada pelo governo.

A instalação e manutenção de Suape promoveu a retirada de muitos moradores e a expropriação de terras que estiveram relacionadas com o Engenho - que não deixam de estar, direta ou indiretamente relacionadas. Antes de Suape, a comunidade residente no Engenho não tinha tantos problemas, que só aumentaram com o complexo industrial.

Não posso esquecer de apresentar nosso anfitrião: Seu Biu. 59 anos, aposentado. Conhecemos Seu Biu na igreja da fazenda e fomos agraciados pelos riquíssimos relatos deste homem que tanto já viveu e viu sobre seus olhos, as modificações geográficas, sociais, econômicas e políticas do lugar. Ele não foi a escola, e começou a trabalhar aos 7 anos de idade e aos 14 foi fichado. Seu Biu alega ainda, que sua aposentadoria é de um salário mínimo e que foi dado a ele, a promessa de revisão (que sabemos, que infelizmente, poucas são as chances de acontecer).

Seu Biu relatou que atualmente a comunidade tem cerca de 280 famílias, mas que tinha o dobro. Muitos foram embora, por trabalho e pela expropriação de terra. Não é mais um desejo dos filhos daquela comunidade, permanecerem ali. Havia uma lagoa no engenho que matava a fome de muita gente (com alimento propriamente dito e com a comercialização). Infelizmente, já é um plano empresarial, o aterramento dela para construção – que também sabemos todos os problemas ambientais que serão desencadeados se isso vier a acontecer. A lagoa é chamada de “Lagoa de Mercês”.

As famílias da comunidade são trabalhadoras, tem jovens aprendizes, cerca de 30% trabalham com a pesca e também tem alguns aposentados. A terra, é comunitária e as casas não tem documentação, mas de acordo com a lei, a partir de 6 anos de residência, já se tornam posseiros do lugar. Quanto a educação, atualmente já há o pleno acesso as escolas, mas o Seu Biu relata, que infelizmente, não é uma opção de muitos jovens, que em suas palavras, são “desordeiros” e que além de não estudar, também não querem continuar a trabalhar com o plantio no local.

A pessoa mais idosa da comunidade tem 91 anos e o meu objetivo mesmo é fazer inveja a geração Z, sedentária, que seu Manoel Deodato – do qual estamos falando, vai para o roçado, anda de bicicleta, bebe whisky e dança. Vida longa e saudável!

Fomos até o pátio do engenho, que é cheio de nomes africanos.

-Nomes africanos?

Isso mesmo, caro leitor. Intencionalmente, eu optei por deixar a melhor parte da história para o final – mesmo que infelizmente, a melhor parte não signifique, a todo tempo, a mais feliz. Também não estou dizendo que é triste. O fato é, que há cerca de 6 anos, descobriram e reconheceram que o engenho, era na verdade, um quilombo, e esse fato garantirá que aquela terra, não possa ser tomada. Ao mesmo tempo que revela, a história de pessoas, que muito sofreram e lutaram para sobreviver naquele lugar. O grande – literalmente grande, símbolo do lugar, é o baobá.

Talvez você não saiba, mas Pernambuco concentra a maior quantidade de Baobás do mundo, depois da África. Ipojuca elegeu o Baobá como árvore símbolo da cidade onde há exemplares com mais de 300 anos de vida, como o que visitamos no Engenho Mercês.

 

Em relato do querido e atencioso Seu Biu, a história desse Baobá foi de que uma mulher trouxe em seus cabelos, da África, uma muda e ali, o plantou, sendo símbolo de resistência e mais uma vez, esperança! A mesma esperança que nos deu força para viver o nosso novo normal (do qual podemos problematizar em outro momento), durante a pandemia e também aquela esperança semeada em nossos corações com os relatos na Igreja Anglicana em Gaibú.

Por fim, antes de retornarmos, visitamos o mangue que está sendo destruído por Suape, mas que resistirá, graças aos esforços dos líderes da comunidade. Fica aí, a esperança de que o berçário da vida marinha possa resistir tão qual, resistiram todos aqueles que viveram no quilombo em Mercês.

Como nem tudo são flores, até retornar ao ônibus, o caminho era cheio de gramíneas, carinhosamente chamadas de capim. E onde tem capim, tem mosquito. Nossa! Como alérgica, minhas pernas e braços só queriam se ver livres daqueles mosquitos mordedeiros, enquanto que meu coração queria continuar a ouvir aqueles relatos e observar o pôr do sol sobre as águas daquele mangue.

Nos despedimos e agradecemos profundamente aos nossos anfitriões. Retornamos. Havia chegado a hora. Chegava ao fim, a primeira experiência de campo metodológico do PET Geografia da atual geração, em uma feliz parceria com o LEPEC. Vou ousar deixar aqui neste relato, que também vivenciamos o caótico trânsito na conurbação das urbes metropolitanas de Recife e em Recife.

De volta a UFPE, estávamos contemplados com a experiência e esperançosos, mais uma vez, de realizar outros trabalhos de campo metodológicos, assim como, de que nossos esforços, juntos, culminarão para excelentes atividades no ano de 2023, no qual estaremos rumo aos 35 anos de programa, a serem completados em setembro.

Agradeço a você, caro leitor, que se debulhou sobre essa significativa descrição de um dia para além da ordinariedade da rotina. Espero que tenha gostado! Até a próxima.

Com carinho, Ariadne.

sexta-feira, 4 de novembro de 2022

what the fuck is plateia?

O que é plateia pra você? 

Etimologicamente, plateia é um conjunto de espectadores, e espectador é aquele que presencia, observa ou assiste a algo ou alguém.
Dito isso, quero te dizer, caro leitor, que o tema é esse mesmo, mas não somente. 

Porque diabos, eu quero falar sobre plateia? Isso não tem a ver com egocentrismo? Sei lá! Depende de como você vê.

Eu vou te contar o que é a ideia de plateia, pra mim, sob uma ótica que minha auto terapia me trouxe, enquanto eu dobrava roupas. Eu achei interessante, e tenho certeza que minha querida psicóloga também acharia... e porque não, escrever imediatamente sobre essa reflexão que me foi tão genuína?

Bom, vamos direto (ou não tão direto assim) à mensagem que eu quero te passar ou te fazer refletir. Partiremos da origem desse sentimento: o fim da graduação se aproximando.

Com o fim da graduação se aproximando, as primeiras lembranças que tenho é do fim do terceiro ano e de todas as vezes que chorei com medo do que faria da minha vida depois de sair daquele micro mundinho que eu vivia. Pois bem, eu continuo vivendo num outro mundinho, só que muito maior - espacialmente falando, e depois dele? Eu também não faço a menor ideia! 

Nesse meio tempo, é inevitável assistir o ciclo de uma geração a frente se findar e essa é a pior parte: saber que o próximo desempregado anônimo sustentado pelos pais e não bolsista, é você. (amigos, eu sei que conseguirão emprego, desculpa a piada nota zero!!)

Sem mais delongas, nessa introdução extensa, o que tá acontecendo é que tem muita gente conhecida apresentando TCC, e mais do que uma oportunidade de aprender - o tema, a técnica e a defesa -, o TCC do coleguinha é um excelente momento pra aprender a ser plateia. 

-Que insistência nisso, Ariadne!!!

Tirando o fato desta pseudo escritora ser absolutamente melodramática&sensível&brega&emotiva, pensem se naturalmente não é importante estar nesse lugar. Se ser plateia tem a ver com presenciar, tem a ver com presença, dedicação de tempo e atenção e tem a ver com prestigiar algo ou alguém!! Dito isso, é uma das coisas mais bonitas que se pode fazer pelo bem mundial das relações saudáveis construídas por seres humanos, quando não estão devorando ou sendo devorados pela competitividade do sistema, que no micro mundinho federal tem lattes, mestrado e concorrência como sinônimos. (Essa parte que eu sou competitiva eu to bem ciente, mas constantemente se é trabalhado aqui nessa psiquê que de bulhufas nenhuma isso vale, senão as relações saudáveis e memórias felizes construídas pelos seres humanos quando não estão devorando ou sendo devorados pelo sistema. :)) 

De que vale um número sem público? De que vale uma caminhada sozinho? Ser plateia é confirmar que você tá alí! E eu aprendi isso na prática, sem ser plateia, mas tendo a melhor que eu podia ter.

-Quem? 

Meus pais! Nunca, sequer deixaram de me prestigiar, mesmo quando tinham todas as justificativas plausíveis para isso. E até quando a presença física não se fez (em raríssimas exceções), as vibrações e a torcida fizeram a diferença. Ao tempo que, em várias vezes, no mesmo número, eu vi pessoas que só precisavam de reconhecimento por tanto esforço! Depois de entender tamanha relevância, juntos, passamos a prestigiar um novo espetáculo, sendo plateia da mini bebê que virou uma mini criança-adulta, e irmãmente falando, fez uma baita diferença na vida dela ter uma plateia. 

Agora, os papéis se inverteram e temos mainha em conclusão de curso, e eu tô de cá, assistindo em câmera lenta essa mãe/mulher se dedicando à dor e a delícia que é realizar um sonho! Passa um filme, e mesmo sabendo que só quem sabe mesmo é quem vive a história, acompanhar o processo torna tudo muito mais incrível. E Gil, sei que você não lerá, mas eu sou sua maior fã! Te amo <3

E isso que nasceu de casa (com participação especial dos meus parentes favoritos) se expande. 

Quero que chegue pra outras pessoas, muito menos próximas a mim, pra que de alguma forma saibam que por mais que tenha sido solitária uma parte do processo, o todo não foi e a culminância também não. Então, caro leitor, me faça o favor de ser plateia mais vezes, prestigiando os seus, de preferência em todo o processo, sempre que possível e permitido.

Eu já me emocionei de cima do palco, mas a melhor emoção, sem dúvidas, é da primeira fila, vendo as luzes da ribalta e todos os holofotes se acenderem, enquanto o espetáculo de pessoas queridas acontecem. 

Pois bem, aos meus amigos, colegas, conhecidos e parentes - faz parte da minha natureza ser espectadora das vossas vidas (muito além da boa e velha fofoquinha) e contem sempre com minha mão, pra caminhar juntos e pra aplaudir!

Aplausos! Pra você que leu até aqui, e pra mim também né, que tive a ousadia de depositar meus devaneios num site da google de forma pública para que fossem lidos. 

E não esqueçam, isso aqui é o "well more than words"!

Já tava esquecendo, mas eu não esqueci. Meu querido Gessinger nos presenteou com uma música que fala: "quando passarem os melhores momentos da sua vida, pela janela alguém estará, de olho em você" e de tão linda que é, euzinha, dedico à minha mini criança, razão do meu existir, da minha cama desforrada, do meu bolso vazio e do meu coração cheio de amor. 

Até a próxima!



segunda-feira, 29 de novembro de 2021

De eu para eu mesma: atualizações de mim

 Faz tanto tempo que eu não venho aqui. Incrível porque eu escrevo dez mil palavras em um relatório mas nem me passa pela cabeça fazer um esforço pra escrever neste site que eu achei que escreveria muito e sempre. Hoje eu simplesmente abri, sem ideia do que escreveria, talvez seja a melhor forma de começar e deixar a criatividade fluir. Mas até que esse texto se transforme ou não, eu uma coisa bonita de se ler, posso registrar aqui que depois de muito tempo, muito mesmo, eu escrevi uma poesia, enorme. Confesso que foi difícil pegar a manha, as palavras ainda fogem... se eu me dedicasse eu poderia voltar a ter o ritmo que eu tinha, mas a vontade não é mais a mesma. No final das contas ficou muito bom, e deu pra sentir que eu ainda sou muito boa nisso, apesar de tudo. 

Em uma atualização, depois desses meses todos, tenho sido bem mais reflexiva nos últimos 5, e tenho aprendido muito mais sobre mim mesma, e isso é bom. Tenho feito coisas que eu não achava que voltaria a fazer tão cedo, como socializar e conviver com as pessoas novamente, e isso tem me feito bem, como eu não estava desde que essa pandemia começou. Os traumas advindos dela não sumiram e talvez nunca sumam, precisam ficar como aprendizado. Na faculdade eu tenho feito coisas legais, que eu duvidava da minha capacidade, mas ainda preciso deixar de ser tão ríspida, comigo e com os outros... preciso melhorar. O check no plano de metas tem sido prazeroso, tem muita coisa que rolou, e tem outras que não... um dia deve dar certo e se não der, não era pra ser. 

Parece que esse texto não tem uma linha de pensamento harmônica e contínua, mas minha cabeça no fundo, no fundo, também não tem. É um turbilhão de ideias, de informações e de pensamentos que a minha terapeuta fica chocada e minha família também, com o tanto de coisas que eu falo num curto intervalo de tempo e como esse intervalo pode virar horas de uma conversa quase ininterrupta. Vi na internet e gostei, minha cabeça tem umas 30 abas abertas. 

Talvez seja só isso, até que não ficou ruim. Parece um diário, um registro. É também um desabafo, e uma nova tentativa de voltar a escrever. Voltarei, um dia. 


Até a próxima, eu mesma.

Atenciosamente, eu.


quinta-feira, 25 de março de 2021

Cotidiano e Cotidianidade

    Este com certeza é um tema que foge do escopo aqui do blog, nunca foi a proposta falar de temas como esse, mas a pandemia veio com tudo e o projeto do blog ficou meio em off. Hoje eu quis vir aqui falar de uma coisa que tem ficado na minha cabeça, desde umas leituras que fiz para uma disciplina e os questionamentos a partir disso, ficam pairando a minha volta.


    Uma breve introdução a ser feita, para entender o contexto de minhas reflexões, vem de um cara chamado Henri Lefebvre, que em suas muitas obras trata desse assunto de hoje. Em um resumo simples, a ideia de cotidiano está especializada nas cidades urbanas contemporâneas, onde muitas coisas são fruto do sistema no qual estamos inseridos: o sistema capitalista de produção.  E por isso, é possível entender problemáticas urbanas também, pois o espaço urbano é marcado por diferenças, desigualdades, cheio de crises e muito mais. 

    O capital vai produzir o urbano, o cotidiano e o espaço. E nós estamos dentro dessa bola de neve. No final das contas e dos muitos parágrafos teóricos que poderia escrever, o sistema origina padrões socialmente impostos à nós, e ficamos presos nesse looping eterno. Eterno porque é praticamente impossível sair dessa alienação promovida pelo capital, e o materialismo histórico-dialético de Marx poderia explicar isso bem. A gente não consegue se desvencilhar disso, pois mesmo com uma grande revolução, o sistema acaba se reinventando. O cotidiano, a cotidianidade, a consolidação do capitalismo, a cultura e o senso comum são elementos preservados de gerações e mesmo que mudados, transformados ou desconstruídos, sempre remeterão, em partes, à sua criação.

    O cotidiano impõe que sejamos produtores incessantes, o capitalismo é pela produção. Devemos produzir e produzir, e tudo que fuja dessa cotidianidade, nos trás culpa. Eu sou uma triste vítima desse sistema. Não produzir me trás sentimento de culpa e/ou de derrota. A sociedade capitalista nos impõe uma trilha perfeita para nossas vidas, mas somente uma pequena porcentagem da população consegue fazê-lo. O caminho perfeito na cabeça de nós jovens, é de praxe: estudar ou empreender, ficar rico, construir um império, ser estabilizado financeiramente, ter uma família perfeita e ostentar. Deter o poder, o poder capitalizado. Mas uma coisa que foge do nosso controle, são nossos desejos de: "será que é isso mesmo que eu quero?"; "será que isso mesmo que me fará feliz?". A gente nem sabe o que quer, 99% das vezes a gente acha que quer porque alguém disse que é o melhor pra gente, e a gente nem conhece esse alguém. Porque alguém também não é autônomo, e essa bola de neve caminha por muitas gerações.

    A incansável busca pela produção e pelo poder, frustra nós jovens. Não temos tanto tempo de lazer, não cuidamos de nós mesmos... estamos produzindo e esquecendo de viver. "Estude enquanto eles estão dormindo." ... e a gente não dorme, não vive. Tudo isso é muito longe de uma vida saudável. É uma guerra de sobrevivência contra o sistema. A gente não tem mais tempo, está em vários lugares ao mesmo tempo. Precisamos dar conta de tudo que dizem e que nos oferecem. Que triste é essa busca por status e poder. Principalmente pelo poder de compra. São tantas futilidades. Estão nos fazendo cada vez mais consumistas e nós gostamos disso. E continuamos à nos massacrar diariamente para usufruir dessas coisas que soam maravilhosas.

    A nossa realidade é triste. Tudo isso está em uma escala global. Pode ser entendida em quase todo o mundo. E diante de tudo, ficamos com duas opções: entender que tá tudo bem falhar e não dar conta porque somos SERES HUMANOS e não máquinas, ou, continuar a produzir porque se nos colocarmos como seres humanos, terão outros que se colocam como máquinas e roubam nosso espaço no capitalismo selvagem. É uma guerra, uma luta por sobrevivência. Que vença o melhor.


25/03/2021
Ariadne Ferraz Vieira

sexta-feira, 12 de junho de 2020

Lista de Sites/Plataformas de Cursos Curtos Online

Oi gente, aqui quem fala é Ariadne do @ariadnevieiraf no instagram. Estou deixando aqui de forma mais completa, os nomes dos sites/plataformas de cursos curtos online, a maioria gratuito, com emissão de certificado ou declaração de participação com carga horária, espero que gostem!! 

-Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS) - https://moodle.ifrs.edu.br/course/index.php?categoryid=38

-Universidade Federal Fluminense (UFF)- http://neesuff.com/

-Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) - https://lumina.ufrgs.br/course/

-Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF)- http://www.sead.univasf.edu.br/mooc/

-Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) - https://moocs.ggte.unicamp.br/

-Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) -https://cursos.poca.ufscar.br/course/index.php 

-Universidade Federal do Recôncavo Baiano (UFRB) -https://avaacademico.ufrb.edu.br//

-Universidade de Harvard - https://www.edx.org/school/harvardx

-SENAI - https://eadsenaies.com.br/

-SEBRAE - https://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/cursosonline

-Fundação Getúlio Vargas (FGV)- https://www5.fgv.br/fgvonline/Cursos/Gratuitos/?goback=.gde_1876153_member_208379733 

-Fundação Bradesco -https://www.ev.org.br/cursos 

-UNA-SUS - https://www.unasus.gov.br/cursos/busca?status=com%20oferta%20aberta&busca=&ordenacao=Relev%C3%A2ncia%20na%20busca

- Hospital Israelita Albert Einstein - https://ensino.einstein.br/curta-duracao/cursos-gratuitos

-Instituto Tecnológico de Massachusetts (MIT) -https://academicearth.org/universities/mit/

-Cod IoT (Plataforma de Cursos) -https://codeiot.org.br/