Este com certeza é um tema que foge do escopo aqui do blog, nunca foi a proposta falar de temas como esse, mas a pandemia veio com tudo e o projeto do blog ficou meio em off. Hoje eu quis vir aqui falar de uma coisa que tem ficado na minha cabeça, desde umas leituras que fiz para uma disciplina e os questionamentos a partir disso, ficam pairando a minha volta.
Uma breve introdução a ser feita, para entender o contexto de minhas reflexões, vem de um cara chamado Henri Lefebvre, que em suas muitas obras trata desse assunto de hoje. Em um resumo simples, a ideia de cotidiano está especializada nas cidades urbanas contemporâneas, onde muitas coisas são fruto do sistema no qual estamos inseridos: o sistema capitalista de produção. E por isso, é possível entender problemáticas urbanas também, pois o espaço urbano é marcado por diferenças, desigualdades, cheio de crises e muito mais.
O capital vai produzir o urbano, o cotidiano e o espaço. E nós estamos dentro dessa bola de neve. No final das contas e dos muitos parágrafos teóricos que poderia escrever, o sistema origina padrões socialmente impostos à nós, e ficamos presos nesse looping eterno. Eterno porque é praticamente impossível sair dessa alienação promovida pelo capital, e o materialismo histórico-dialético de Marx poderia explicar isso bem. A gente não consegue se desvencilhar disso, pois mesmo com uma grande revolução, o sistema acaba se reinventando. O cotidiano, a cotidianidade, a consolidação do capitalismo, a cultura e o senso comum são elementos preservados de gerações e mesmo que mudados, transformados ou desconstruídos, sempre remeterão, em partes, à sua criação.
O cotidiano impõe que sejamos produtores incessantes, o capitalismo é pela produção. Devemos produzir e produzir, e tudo que fuja dessa cotidianidade, nos trás culpa. Eu sou uma triste vítima desse sistema. Não produzir me trás sentimento de culpa e/ou de derrota. A sociedade capitalista nos impõe uma trilha perfeita para nossas vidas, mas somente uma pequena porcentagem da população consegue fazê-lo. O caminho perfeito na cabeça de nós jovens, é de praxe: estudar ou empreender, ficar rico, construir um império, ser estabilizado financeiramente, ter uma família perfeita e ostentar. Deter o poder, o poder capitalizado. Mas uma coisa que foge do nosso controle, são nossos desejos de: "será que é isso mesmo que eu quero?"; "será que isso mesmo que me fará feliz?". A gente nem sabe o que quer, 99% das vezes a gente acha que quer porque alguém disse que é o melhor pra gente, e a gente nem conhece esse alguém. Porque alguém também não é autônomo, e essa bola de neve caminha por muitas gerações.
A incansável busca pela produção e pelo poder, frustra nós jovens. Não temos tanto tempo de lazer, não cuidamos de nós mesmos... estamos produzindo e esquecendo de viver. "Estude enquanto eles estão dormindo." ... e a gente não dorme, não vive. Tudo isso é muito longe de uma vida saudável. É uma guerra de sobrevivência contra o sistema. A gente não tem mais tempo, está em vários lugares ao mesmo tempo. Precisamos dar conta de tudo que dizem e que nos oferecem. Que triste é essa busca por status e poder. Principalmente pelo poder de compra. São tantas futilidades. Estão nos fazendo cada vez mais consumistas e nós gostamos disso. E continuamos à nos massacrar diariamente para usufruir dessas coisas que soam maravilhosas.
A nossa realidade é triste. Tudo isso está em uma escala global. Pode ser entendida em quase todo o mundo. E diante de tudo, ficamos com duas opções: entender que tá tudo bem falhar e não dar conta porque somos SERES HUMANOS e não máquinas, ou, continuar a produzir porque se nos colocarmos como seres humanos, terão outros que se colocam como máquinas e roubam nosso espaço no capitalismo selvagem. É uma guerra, uma luta por sobrevivência. Que vença o melhor.
Ariadne Ferraz Vieira
Expressou exatamente os meus sentimenos sobre essa vida louca que vivemos. Será que vale mesmo a pena o sacrificio?
ResponderExcluirFalou tudo!! Será que vale a pena abdicar ?
ResponderExcluir